terça-feira, 29 de março de 2011

Hemofilia

A 17 de Abril comemora-se o Dia Mundial da Hemofilia, data do nascimento do fundador da Federação Mundial da Hemofilia, Frank Schnabel, portador de hemofilia A grave, que dedicou a sua vida a melhorar a qualidade de vida de todos os doentes com hemofilia.

O que é a hemofilia?

O termo é aplicado a um conjunto de doenças que cursam com tendência para hemorragias (perdas de sangue) de difícil controlo. O sangue contém várias proteínas (factores da coagulação) que em conjunto controlam as perdas de sangue. Doentes com hemofilia apresentam um deficit quantitativo ou qualitativo de um (ou mais) desses factores da coagulação. Assim os hemofílicos sangram mais tempo e muitas vezes com hemorragias internas.

Que tipos de Hemofilia existem?

Existem 2 tipos principais, Hemofilia A (deficiência do factor VIII) e Hemofilia B (deficiência do factor IX), sendo a primeira 5 vezes mais frequente que a segunda. Existem deficits de outros factores que também se associam a perdas de sangue incluindo de factor I, II, V, VII, X, XI, XII e factor de von Willebrand (mais raras e normalmente menos graves).

Quem é atingido?

Hemofilia A e B tem como base uma alteração genética localizada no Cromossoma X (cromossoma sexual) do qual as mulheres têm 2 cópias, enquanto os homens somente têm 1 (o segundo é o Y). Assim, no caso dos homens, bastará 1 cromossoma com a mutação para o indivíduo ser hemofílico; enquanto que na mulher, esta teria que ter a mutação em ambos os cromossomas X (situação rara). Embora a situação de portadora seja mais frequente (um X com mutação, outro normal) os seus filhos podem ser doentes, mas as mães normalmente não apresentam sintomatologia. Em cerca de um terço dos casos não existe história familiar, tratando-se uma mutação “de novo”. Cerca de 1 em 10.000 pessoas tem Hemofilia A enquanto que 1 em 50.000 pessoas tem hemofilia B.

Também existem casos de hemofilia adquirida em que se desenvolvem auto-anticorpos contra factores da coagulação, surgindo mais tarte na vida, habitualmente em indivíduos com mais de 50 anos.

Quais os sintomas?

Extensos hematomas, hemorragias musculares e intra-articulares (joelhos, cotovelos e tornozelos), hemorragias prolongadas e hemorragias internas sendo a complicação mais temível a hemorragia cerebral.

Quais as complicações?

As hemorragias intra-articulares de repetição, em que a articulação desenvolve um processo inflamatório crónico que, evoluindo, origina uma artropatia terminal crónica, caracterizada pela destruição da cartilagem articular, dor crónica e limitação funcional grave. Em hemofílicos graves, não tratados, essa artopatia poderá condicionar severamente a sua qualidade de vida, instalando-se durante a adolescência.

Quais os graus de gravidade da hemofilia?

Clinicamente apresenta-se com vários graus de gravidade, directamente relacionados com o nível basal do factor deficitário em circulação. As hemofilias graves apresentam níveis inferiores ou iguais a 1%, as moderadas níveis entre 2 e 5%, e as ligeiras, níveis entre 5-40%. Assim sendo, hemofílicos severos apresentam hemorragias intra-articulares ou intra-musculares espontâneas. Os Hemofílicos moderados sangram excessivamente após traumatismos mínimos, enquanto os ligeiros apenas sangram em presença de traumas severos ou procedimentos cirúrgicos, necessitando de uma preparação prévia para poderem ser intervencionados.

Como se diagnosticam?

Nos estudos de coagulação realizados rotineiramente o Tempo parcial de tromboplastina activado (aPTT) apresenta-se alongado, e realizando posteriormente a determinação dos níveis plasmáticos dos factores VIII e IX (Hemofilia A e B) apresenta um valor anormalmente baixo.

Qual o tratamento?

O princípio geral é administrar o factor em falta, injectando-o na circulação. Os factores da coagulação podem ser administrados na forma de concentrados de factor, crioprecipitados ou plasma.

Os concentrados de factor podem ser derivados do sangue humano ou produzidos usando células geneticamente modificadas para produzir o factor respectivo. Doentes com hemofilia A ligeira, podem utilizar desmopressina, uma hormona sintética que estimula a libertação do factor VIII.

Crioprecipitados têm alta concentração de factor VIII sendo obtidos pela centrifugação de plasma a 4ºC sendo ricos também em factor von Willebrand (mas não factor IX).

Quando se retira do sangue os glóbulos vermelhos ficamos com o plasma que contem todos os factores da coagulação embora numa concentração baixa, assim será necessário uma volume elevado para repor o factor em falta.

A administração deverá ser sempre o mais precoce possível após sintomatologia compatível com hemorragia. Em doentes jovens actualmente recomenda-se um regime profilático em que existe administração do factor em falta 1 a 3 vezes por semana permitindo-lhes uma vida normal sem as complicações da hemofilia.

Os doentes devem evitar medicação anti-inflamatória que alterem a função plaquetar (aspirina por exemplo)

Existem complicações da terapêutica?

Sim, desde alergias aos concentrados, desenvolvimento de inibidores (anticorpos dirigidos contra os factores presentes no concentrado) e infecções víricas, actualmente muito raras.

Existe cura?

Existem estudos de terapia genética, com o objectivo de transferir para o genoma de algumas células do doente o gene “normal” para o factor em falta, mas, actualmente, não existe cura, mas apenas o tratamento crónico de substituição.

domingo, 30 de janeiro de 2011

O caso da Inês

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Proteína induzida pelas células estaminais responsável pelos efeitos terapêuticos em lesões cerebrais

Uma equipa de investigadores alemães identificou uma proteína com um papel importante no mecanismo subjacente ao potencial terapêutico das células estaminais do sangue do cordão umbilical no tratamento de lesões cerebrais. O estudo encontra-se publicado no Journal of Neuroscience Research.
Vários estudos têm mostrado que a transplantação de células do sangue do cordão umbilical exerce efeitos terapêuticos em diferentes modelos animais de lesões do sistema nervoso central, incluindo danos cerebrais após hipóxia isquémica neonatal, situações que nos humanos se podem traduzir no surgimento de paralisia cerebral.
Desconhecem-se, no entanto, os mecanismos pelos quais as células transplantadas exercem efeitos benéficos nos tecidos lesados, bem como os factores responsáveis pela migração celular para os locais afectados e as interacções entre as lesões e as células transplantadas.
A investigação agora realizada revela que a proteína estudada funciona como um sinal para a condução das células mononucleares do sangue do cordão umbilical para a área afectada, em ratos com lesão hipóxico-isquémica cerebral perinatal.
Pensa-se que a indução da proteína em resposta às lesões cerebrais possa ter várias funções, incluindo efeitos na regeneração de vasos sanguíneos e/ou na migração dirigida de células endógenas e exógenas para os locais afectados.
David Ferreira, médico, afirma que "trata-se de um trabalho de investigação que vem clarificar o processo de migração das células mononucleares do sangue do cordão umbilical para a área afectada com lesão hipóxico-isquémica cerebral perinatal, podendo assim contribuir para a definição de novas terapêuticas no tratamento deste tipo de lesões."

sábado, 28 de agosto de 2010

Células do sangue do cordão umbilical reduzem lesões após AVC

Uma equipa de investigadores norte-americanos demonstrou que a terapia, com células do sangue do cordão umbilical, tem um importante papel na diminuição das lesões após um acidente vascular cerebral (AVC), que continua a ser a principal causa de morte em Portugal. O estudo encontra-se publicado no Journal of Neuroscience Research.

Vários estudos têm confirmado a eficácia da terapia celular, com sangue do cordão umbilical humano, na redução das lesões isquémicas em ratos, tendo estes efeitos sido atribuídos em parte à redução da neuroinflamação. No entanto, os mecanismos envolvidos na redução da neuroinflamação, proporcionada pela terapia com células estaminais não se encontravam ainda esclarecidos.

A investigação, agora realizada, demonstra que a terapia com células estaminais suprimiu o recrutamento de células pró-inflamatórias para o local da isquémia, apresentando assim um potencial mecanismo para os efeitos protectores da terapia celular, após a indução de um acidente isquémico em ratos.

Neste trabalho, foram estudados dois grupos de animais, uns tratados com células estaminais do sangue do cordão umbilical e outros com um controlo sem células, 48 horas após o acidente isquémico. A injecção sistémica de células do sangue do cordão umbilical reduziu a magnitude da resposta imune, e a área total ocupada pelas células, que desencadeiam a resposta inflamatória, foi significativamente reduzida nos ratos tratados com células do sangue do cordão umbilical em relação aos ratos controlo. Esta terapia reduziu o número de células pró-inflamatórias nas regiões peri-enfarte e a activação das cascatas inflamatórias, que resultam na lesão neural, exacerbada após a isquémia.

David Ferreira, responsável médico da Crioestaminal, afirma que “se trata de um trabalho de investigação, que vem clarificar o potencial das células do sangue do cordão umbilical na redução da neuroinflamação após acidentes vasculares cerebrais, podendo assim contribuir para a definição de novas terapêuticas no tratamento deste tipo de lesões.”

Os AVC são a principal causa de morte no nosso país: 200 em cada 100 mil portugueses morrem de AVC, número que equivale a duas mortes por hora. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), um, em cada quatro homens e uma, em cada cinco mulheres, terão um AVC antes dos 85 anos de idade.

Células estaminais têm potencial anti-cancerígeno

Um estudo publicado na revista Cancer Letters revelou que as células estaminais mesenquimais do sangue do cordão umbilical conseguem inibir o crescimento de células tumorais metastáticas em tumores agressivos.

De acordo com os autores, a matriz extracelular (proteínas e polissacarídeos secretadas) das células que são obtidas a partir do sangue do cordão umbilical induz nos tumores um aumento dos níveis de uma proteína com efeitos anti-tumorais. Simultaneamente, esta matriz promove a secreção de um outro factor que suprime uma via de sinalização celular muito importante na formação do cancro.

Nesta investigação, células tumorais de um cancro da mama foram expostas durante dois dias a células estaminais mesenquimais do sangue do cordão umbilical, tendo depois sido injectadas em fêmeas de ratos. Passados 43 dias, os volumes dos tumores no grupo tratado com células estaminais eram significativamente menores do que nos animais do grupo de controlo, tendo sido demonstrada a inibição do crescimento das células cancerígenas e da progressão do tumor.

Células tumorais e micro-ambiente

O cancro é uma doença complexa, na qual existe uma relação dinâmica entre as células tumorais e o micro-ambiente que as envolve. Nos tumores existem células estaminais cancerígenas que têm algumas características em comum com as normais.

Ambos os tipos de células estaminais são profundamente influenciados pelos respectivos micro-ambientes envolventes, o que dita o seu destino celular e comportamento. A compreensão do efeito inibitório do micro-ambiente das células estaminais mesenquimais pode vir a permitir o desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas de combate ao cancro.

David Ferreira, responsável médico da Crioestaminal, afirma que “trata-se de um trabalho de investigação que vem clarificar a relação entre algumas substâncias da matriz extracelular, produzidas por células estaminais mesenquimais, com potencialidades inibitórias do crescimento tumoral, podendo assim contribuir na definição de novos alvos terapêuticos no tratamento do cancro.”