sábado, 28 de agosto de 2010

Células do sangue do cordão umbilical reduzem lesões após AVC

Uma equipa de investigadores norte-americanos demonstrou que a terapia, com células do sangue do cordão umbilical, tem um importante papel na diminuição das lesões após um acidente vascular cerebral (AVC), que continua a ser a principal causa de morte em Portugal. O estudo encontra-se publicado no Journal of Neuroscience Research.

Vários estudos têm confirmado a eficácia da terapia celular, com sangue do cordão umbilical humano, na redução das lesões isquémicas em ratos, tendo estes efeitos sido atribuídos em parte à redução da neuroinflamação. No entanto, os mecanismos envolvidos na redução da neuroinflamação, proporcionada pela terapia com células estaminais não se encontravam ainda esclarecidos.

A investigação, agora realizada, demonstra que a terapia com células estaminais suprimiu o recrutamento de células pró-inflamatórias para o local da isquémia, apresentando assim um potencial mecanismo para os efeitos protectores da terapia celular, após a indução de um acidente isquémico em ratos.

Neste trabalho, foram estudados dois grupos de animais, uns tratados com células estaminais do sangue do cordão umbilical e outros com um controlo sem células, 48 horas após o acidente isquémico. A injecção sistémica de células do sangue do cordão umbilical reduziu a magnitude da resposta imune, e a área total ocupada pelas células, que desencadeiam a resposta inflamatória, foi significativamente reduzida nos ratos tratados com células do sangue do cordão umbilical em relação aos ratos controlo. Esta terapia reduziu o número de células pró-inflamatórias nas regiões peri-enfarte e a activação das cascatas inflamatórias, que resultam na lesão neural, exacerbada após a isquémia.

David Ferreira, responsável médico da Crioestaminal, afirma que “se trata de um trabalho de investigação, que vem clarificar o potencial das células do sangue do cordão umbilical na redução da neuroinflamação após acidentes vasculares cerebrais, podendo assim contribuir para a definição de novas terapêuticas no tratamento deste tipo de lesões.”

Os AVC são a principal causa de morte no nosso país: 200 em cada 100 mil portugueses morrem de AVC, número que equivale a duas mortes por hora. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), um, em cada quatro homens e uma, em cada cinco mulheres, terão um AVC antes dos 85 anos de idade.

Células estaminais têm potencial anti-cancerígeno

Um estudo publicado na revista Cancer Letters revelou que as células estaminais mesenquimais do sangue do cordão umbilical conseguem inibir o crescimento de células tumorais metastáticas em tumores agressivos.

De acordo com os autores, a matriz extracelular (proteínas e polissacarídeos secretadas) das células que são obtidas a partir do sangue do cordão umbilical induz nos tumores um aumento dos níveis de uma proteína com efeitos anti-tumorais. Simultaneamente, esta matriz promove a secreção de um outro factor que suprime uma via de sinalização celular muito importante na formação do cancro.

Nesta investigação, células tumorais de um cancro da mama foram expostas durante dois dias a células estaminais mesenquimais do sangue do cordão umbilical, tendo depois sido injectadas em fêmeas de ratos. Passados 43 dias, os volumes dos tumores no grupo tratado com células estaminais eram significativamente menores do que nos animais do grupo de controlo, tendo sido demonstrada a inibição do crescimento das células cancerígenas e da progressão do tumor.

Células tumorais e micro-ambiente

O cancro é uma doença complexa, na qual existe uma relação dinâmica entre as células tumorais e o micro-ambiente que as envolve. Nos tumores existem células estaminais cancerígenas que têm algumas características em comum com as normais.

Ambos os tipos de células estaminais são profundamente influenciados pelos respectivos micro-ambientes envolventes, o que dita o seu destino celular e comportamento. A compreensão do efeito inibitório do micro-ambiente das células estaminais mesenquimais pode vir a permitir o desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas de combate ao cancro.

David Ferreira, responsável médico da Crioestaminal, afirma que “trata-se de um trabalho de investigação que vem clarificar a relação entre algumas substâncias da matriz extracelular, produzidas por células estaminais mesenquimais, com potencialidades inibitórias do crescimento tumoral, podendo assim contribuir na definição de novos alvos terapêuticos no tratamento do cancro.”

domingo, 15 de agosto de 2010

Células estaminais podem ser utilizadas para produzir válvulas cardíacas

É possível utilizar células derivadas das células do sangue do cordão umbilical como fonte celular única para a produção de válvulas cardíaca conforme demonstra um estudo recentemente publicado na revista The Annals of Thoracic Surgery.


Esta pesquisa, conduzida por uma equipa de investigadores alemães, envolveu a utilização de suportes feitos de um polímero biodegradável que, para a produção das válvulas cardíacas, foram revestidos com células diferenciadas a partir de células do sangue do cordão umbilical.

As válvulas cardíacas foram posteriormente desenvolvidas num biorreactor durante quatro semanas, e a sua análise macroscópica permitiu concluir que as válvulas produzidas se encontravam intactas e funcionais, abrindo e fechando sincronizadamente.

Por microscopia electrónica foi possível observar a formação de uma estrutura compacta, organizada em várias camadas, tendo-se igualmente verificado um crescimento celular para o interior dos poros do suporte biodegradável.

Apesar de serem ainda necessárias algumas melhorias, nomeadamente nos materiais de suporte e no tratamento que lhes é feito antes de as células aderirem, este estudo constitui um passo à frente no desenvolvimento de novas estratégias para o tratamento de defeitos congénitos e mostra que, mesmo no final da infância ou na idade adulta, é possível criar in vitro válvulas autólogas a partir de uma única fonte de células, o sangue do cordão umbilical.

Uma válvula cardíaca assim produzida, por engenharia de tecidos, pode, em caso de necessidade, ser implantada no mesmo paciente como válvula autóloga substituta.

David Ferreira, responsável médico da Crioestaminal, afirma que “actualmente as válvulas cardíacas podem ser substituídas por próteses biológicas ou mecânicas, qualquer delas com limitações, que incluem incapacidade para crescerem ou se remodelarem, obrigando frequentemente a re-intervenções, especialmente em doentes pediátricos. O trabalho desta equipa de investigadores alemães demonstra que um sub-grupo de células do sangue de cordão umbilical podem ser diferenciadas em dois tipos de células que, “in vitro” e numa estrutura adequada, conseguem mimetizar o tecido cardíaco.Esta área emergente da engenharia de tecidos poderá assim permitir restaurar ou substituir tecidos danificados e num futuro não muito distante, alterar profundamente a forma com tratamos os doentes.”

Expanção de células estaminais em laboratório processo é «possível e seguro»

Um estudo publicado na "Nature Medicine" revela que o processo de expansão em laboratório de células estaminais do sangue do cordão umbilical "é possível e é seguro", o que aumenta "significativamente a velocidade da recuperação da hematopoiese [produção de células sanguíneas pela medula] e a eficiência dos transplantes" em leucemias.

Este processo poderá erradicar com a actual maior restrição ao uso das células estaminais do sangue do cordão umbilical em adultos, que se prende com o facto de algumas amostras não conterem células em número suficiente para poderem ser utilizadas, com sucesso, em transplantes.

Colleen Delaney, da Division of Clinical Research do Fred Hutchinson Cancer Research Center, em Seattle (EUA), é a líder da equipa de investigação que desenvolveu uma metodologia optimizada e clinicamente viável, que permite expandir as células estaminais progenitoras do sangue do cordão umbilical, tendo em vista a sua utilização clínica, sendo este "o primeiro relato de um enxerto rápido proveniente de células estaminais progenitoras expandidas 'ex vivo'".

Os investigadores realizaram ainda um ensaio clínico de fase um, em que o sangue do cordão umbilical, manipulado daquela forma, foi transplantado em humanos, após um tratamento com quimio e/ou radioterapia, tendo em vista a erradicação das células sanguíneas tumorais.

Segundo David Ferreira, especialista em imuno-hemoterapia e responsável médico da Crioestaminal, o mais importante neste estudo “é o facto de se pegar num determinado número de células e, com processos laboratoriais, multiplicá-las", revelando-se a aplicação segura nas pessoas que as receberam, sendo que "este avanço científico vem comprovar o potencial que representa hoje em dia a criopreservação das células estaminais do sangue do cordão umbilical".

Contudo o especialista alerta para a necessidade de novos estudos que possam avaliar a eficácia do processo, nomeadamente
"ensaios clínicos mais alargados, de fase dois e três".